12º Dia A Gosto_ Agita!

 


E se te disser que dentro há inquietude, uma agitação que agita. Um burburinho que movimenta. Para onde, para quê?

Não se sabe. E observa as sensações, as oscilações que lhe percorrem o corpo e encontra fora também essas ondas de temperatura, temperamento. De risos e seriedades.

Como é suposto estar? Deverá preocupar-se? O que faz com essa agitação?

Dar-lhe lugar para que ocorra e se manifesta. Não é preciso pressas para que se vá, nem vagar. E permitir a impertinência, agora sim, agora não.

O frenesim precisa espaço para dançar. E na verdade pouco espaço se dava para permitir. Rapidamente queria livrar-se do incómodo que a agitação provocava, sem querer olhá-la a direito. E vamos lá ocupar-nos com outras coisas, vamos lá dar utilidade ao tempo, fazer coisas... que isto de ficar na quietude a observar a inquietude é para malucos.

E ela que ia admirando a sua loucura, observava que afinal era apenas QB (quanto baste). Tudo o que pudesse fugir ao que achava conhecido, batido e esbatido dava-lhe sustos de morte. 

E ainda que soubesse que tantas vezes a morte era o melhor que lhe podia acontecer, que as cinzas eram o melhor fertilizante para o seu renascimento. O temor de desaparecer para si da forma conhecida era sempre um processo. E também ele pedia ternura, cuidado, respeito.

Não precisava de ser bruta, nem à bruta, nem de ser forte. Nem sequer justificar-se. E tantas vezes se apanhava na armadilha de se justificar, na tentativa de compreender o sentir, ela que tanto sentia. E se enredava por não conseguir entender o mais puro que lhe saía.

É que estar a gosto é permitir-se gostar do que é desconfortável, do que mói, do que não se controla. É atravessar a ponte flutuante de madeira com centenas de metros de altitude, saber-se com vertigens e permitir que as pernas tremam, que o estômago se comprima e a cabeça almareie. São sensações, respostas do corpo que circula, respira, reage, responde. E respirar a travessia sem se identificar com o que sucede é a chave.

E esta imagem transportou-me para aquele barco em alto mar, em Vera Cruz, México. De olhos vendados, sentada no barquinho de pescadores, a passear pela ondulação agreste do pacífico. E enjoada, sem ver, todo o meu corpo era movimento, a cabeça girava a uma velocidade estonteante, assim como o estômago que só queria vomitar. Transpirava por todos os lados, aflita, queria fugir dali, tirar a venda, jogar-me ao mar, fazer qualquer coisa para sair daquele lugar, não fazendo também ideia de como solucionar o mal estar horrível onde me encontrava. Havia um desespero dentro que a mente sempre tem a tendência a piorar. E aí no meio da tempestade física e mental permiti-me morrer por instantes... julgo que não foi uma escolha voluntária... foi mesmo desistência. E tornei-me movimento. E piorei. Todas as minhas forças foram-se. E de repente tudo parou. Tudo ficou escuro, quieto cá dentro. Deixei de sentir, de respirar. veio a serenidade. E quando voltei a sentir o corpo ele está forte, firme, tinha ganho raízes até às profundezas do mar. Estava no centro. E tudo o resto tinha sido relegado para outro plano. O corpo ainda sentia náusea, mas era só uma sensação, como outra qualquer. Já não afligia. E o movimento passou a ser uma dança.

Estava presente. E observava, sem se apegar a nada, sem definir, deixando que tudo sucedesse. Estando dentro de si, assistindo à flutuação das sensações, como das ondas no seu vai e vem.

E assim assistia ao seu ritmo e caminhar ora introspectivo ora extrovertido. Quieto e inquieto.

E continuava desenleando o novelo, largando o controlo.

E dizia hoje a eleição musical "Dançar até ao Fim do Amor" e onde começa e onde acaba? E de tantos fins fala o Amor para que mais puro e livre seja. Quantas capas tem a capa da pele que vestes?

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