15º Dia A Gosto_ pôr do sol


E se num dia despertamos para ver o nascer do sol, no outro assistimos à sua abalada. É uma morte que acontece. A transformação da palete de cores e uma despedida da estrela da manhã. Há uma noite que se quer atravessada.

E a morte e a obscuridade treina-nos para ver melhor, sem as distrações e dispersão do colorido das cores, das vozes, das músicas que nos seduzem. A morte convida à quietude, ao silêncio, ao descanso, à introspeção.

E depois de um dia de festa, da criança aos saltos com outra criança, das gargalhadas, das corridas, das caminhadas. É tempo de largar. De render à noite. Permitir que a roupa suada largue o corpo, que o banho de água doce refresque e assim solta abrir para que o movimento suceda.

A sensibilidade está na brisa do vento que toca na cara, no raio de sol que ora aquece ou pica a pele, na água que refresca o coração. E na terra que amacia os meus passos. E as palavras... quanto as palavras de coração, de alma para alma nos tocam, quando abrimos para receber.

Não importa a que soam e a que ressoam, no final do dia não são as palavras, mas a energia que elas transportam. E a emissão de rádio a que estás ligad@.

Tudo é imprevisível, ainda que possamos por vezes adivinhar o tom, e ter até algumas sensações sobre a qualidade energética. E sabemos o quanto isso pode refrenar, pôr-nos à cautela, sobre vigia e à defensiva. E a mente começa logo a conjeturar, lá vem mais do mesmo... e isso nada mais é do que a puta da expetativa que começa logo a fazer ligações e projeções ao conhecido, e abala logo do presente momento para outro. E deixa de escutar.

E quando se apercebia dos mecanismos, lá respirava para os abrandar e dizer xô. E sempre que se apanhava e voltava presente, era sempre surpreendida. 

E como é bom morrer para as formas, para a não intenção, para o não saber. Para ficar na abstração da noite, do escuro.

Era uma pedrinha pequenina. Um sopro. Um sol radioso enorme que a seguir se desfazia e desaparecia para dar lugar a outra coisa.

E observava-se no engrandecer e na pequenez, até se tornar partícula. As coisas, as formas, o pensamento, a si mesma também.

E a relativamente do que se vai.. o deixar ir e permitir que as sensações se demorem o tempo que quiserem. O quentinho saboroso de um dia bem passado, o miminho bom do abraço do Mané, o aconchego do jantar feito pela mãe. Os reencontros, o matar saudades, a dor de se olhar, abrir e questionar, a emoção que se abre para receber e ser tocada, e o amor que não conhece fronteiras nem línguas, nem obstáculos. No bem querer tudo floresce, assim é o coração. 

 


Comentários