Ia receber visitas. Como gostava de receber pessoas, ela. E sentia o entusiasmo de abrir as portas, de se pôr à conversa. De querer genuinamente conhecê-las. E quis a lua estar em altas, no pico no momento da chegada.
Arregaçou as mangas e estava na azáfama para ter a casa perfumada, limpa para bem receber. Coisas de faxineira, de nutridora, de ativação da "mãe" que levava dentro. Tinha esse gosto. E a parte hospitaleira ficava contente pela novidade, pela casa cheia, por...
Era sempre uma oportunidade de se explorar mais fundo, de se aprender na relação. Na troca, no ajeitar dos diferentes ritmos. De afinar a dança do com licença, das vozes, dos silêncios, do se faz favor. Dos equilíbrios dos copos vazios e cheios.
E como ser visita na sua própria casa? É que as visitas são sempre família, partes de si de quem sente saudades e não sabia. Mas internamente sentia o frenesim, o entusiamo bom.
E já tinha começado a dizer sim aos convites da vida. Começavam estes cada vez mais a serem familiares. E cada vez que tinha oportunidade de reforçar os votos, sentia-se mais emocionada, por se sentir mais em casa no outro. E em si portanto.
E a vida sabia em quantos desafios a colocava, e crises para que fortalecesse a criança, a insegurança, os limites, e tudo e tudo. Pois então, quem mais do que ela, a vida, para saber o que era preciso.
E sempre se visitava, quando tinha visitas. Achavam elas, as visitas que era eu que as recebia? Mas na verdade, quem abria a porta, a janela de oportunidade eram elas.
Pois quando se está em casa, acostumada às paredes, janelas e mobília, repara-se mesmo do que é feita a casa? O que mora lá e o que existe lá?
Desfruta-se da louça toda?
E a casa viva acompanha-me para todo o lado, mesmo na minha própria casa. E encontro lar em cada sorriso, presença que reconheço em cada encontro.
Como é bom ir estando cada vez mais A Gosto e desfrutar de participar mais na grande família e cozinhar em conjunto, a autenticidade de ser, de exprimir, sem filtros.
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