23º Dia A Gosto _ tempo

 



Tempo! Tempo para olhar. Para respirar. Tempo para sentir. Para observar. O que vai dentro e se manifesta fora.

Há momentos em que o sol se põe. Outros em que nasce. Marés que vêm, outras que vão. Momentos de palavras, outros de silêncio.

E observas o tempo a passar nos intervalos. Às vezes cheios, outros vazios. Nada interrompe o que existe. E as formas sucedem-se.

Não há atrasos, ainda que o tempo do relógio possa estar desacertado com a chegada do tempo. E o tempo impõe-se. Ele passa. Tem o ritmo que marca o compasso do passo. Ele despoleta, impulsiona, determina. E ora abre, ora fecha, ele contém - espaço. Será ele visível ou invisível?

Como é a fala do espaço do tempo? Qual o seu tom, e cheiro e que roupa veste?

Ele, o tempo, entrou devagarinho pela porta da frente. Não tocou à campainha. Para quê... se estava em casa e a porta estava aberta? Ele nunca se adiantava, nem andava para trás. Seguia o seu caminho.

Ele sempre convidava a despir. Era o seu presente. De sempre caber e acolher e quando se sentia correspondido, a generosidade era de ir ficando mais jovem e presente.

O tempo não tinha tempo e isso fazia-o ganhar sempre mais tempo para permanecer no tempo.

E os anos não passavam, e os dias pregavam partidas e as horas. Ora encolhiam, ora esticavam... era a forma do tempo se revelar nos seus vários espectros. E sempre que o tentavam agarrar fugia, pois só podia Ser o que era em cada momento. E isso tornava-o único, irrepetível e mestre de diversas caras e cores, do invisível e do visível. Ora mágico, ora carrasco.

E sempre que lhe tentava impor uma fé... ó tempo, como o tempo lhe escapulia entre os dedos, como areia fina, para que se esvaísse qualquer ideia que pudesse gerar acerca de si.

Restava-lhe contemplar-se.

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