9º Dia A Gosto_ o coração sabe o caminho


O dia chamara-lhe para pôr a agenda em dia. Pôr-se ao dia. Havia sempre um frenesim interno que a fazia lembrar que tinha sempre qualquer coisa por fazer antes de se dedicar ao importante. 

Os detalhes que pareciam fazer adiar. Mas também esses detalhes compunham a decoração do seu ser no momento. Antes de começar o trabalho tinha de lavar a louça. Era importante sentir o ambiente limpo, para se poder concentrar.

E na verdade quando dava ordem ao espaço externo, algo interno se ordenava. Como se tivesse de ganhar espaço para assentar. E quando assentou, tudo fluiu.

Metade do trabalho é feito dentro e vem para fora quando está pronto. Mas o sistema nem sempre reconhece e começa a criticar que já está a procrastinar. E ela assiste-se na sua ladainha. Há sempre uma ditadora, uma crítica e uma juíza que gostava de falar. E ela permite-lhe, diz que alivia. É presença. E cada vez leva menos a sério as personagens que lhe moram dentro.

Escutava-se e à medida que o fazia ordenava-se. E observava como tudo ia abrindo, florescendo. E agradecia, ia agradecendo-se à vida a acontecer.

Ao que lhe fugia do controlo. E coisas que lhe sabiam bem porque a expandiam, outras punham-lhe nervosa... ai que a reserva apitou, será que o combustível vai dar? Ai o tempo, as filas... ui que me vou atrasar. E esse fora de controlo provocava-lhe agitação. 

E há sempre quem chega primeiro e cuida de eleger o melhor lugar para o grupo. E o tempo parece chegar para tudo. E sobrar. Não há tempo quando se dá tempo para si. Quando se respira, se conecta, se cura, o coração sabe o caminho.

E o que parece atraso é cada um a fazer o seu percurso de encontro dentro. De observar a sua agitação interna, de se reunir consigo, de aproveitar o tempo que está para se contemplar. E podemos olhar para fora e achar que é o pôr do sol, as cores prateadas do mar, e a brisa, e o cheiro... mas é sempre de nós que falamos.

E o controlo? Serve para ser quebrado. Para que aí partido e quebrado possa ser ressignificado. 

O que fazemos com os ingredientes apresentados pela vida? Escolhemos plantar sementes amorosas e doces ou lançar farpas?

A quem devo eu cuidar primeiro? Pergunta ao coração. Ele sabe o caminho. E se cuido de me dar doçura e ternura, pois também te cuido a ti. 

Ofereço o que levo dentro. 

Deixa então que seja o GPS do coração a guiar os teus passos. Por mais estranha que possa parecer a rota e os caminhos.

 

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