A partida

A partida começa quando decides ir. Queremos muito chegar. O resultado. Mas o processo é o caminho. A travessia.

A partida traz em si a chegada. A chegada é o instante, o momento, cada respiração. 

A vida é a linguagem simbólica em permanente manifestação. E cada gesto, cada passo é uma revelação. Possamos estar presentes para sentir, para reparar e responder com a nossa habilidade. A vontade de explorar, de expressar e de permitir que suceda o plano sem plano.

Tu até te podes preparar, fazer a tua parte. Treinar. Fazer a mala, levar os preparos... mas quem te prepara para o momento?

O coração aberto, disponível sempre sabe responder. Aí exposto, aberto sempre expressa o que lhe vai na alma. Deixa-se levar pela organicidade, pelo plano da vida e compõe o poema, a poesia, a música com a matéria prima que emerge.

E haverá oração mais bonita do que CriArte em cada composição, em cada brisa, em cada onda que inunda?

Parece assustador... apenas porque não estamos habituados a voar sem chão, porque é preciso desformatar, largar tralha e conceitos. E ficar na criança mágica que explora, que vai, que está na aventura do presente, que experimentar e confia que há sempre caminho.

Ela ia partir... oficialmente o caminho começa daqui a umas horas, poucas já. Uma viagem para o Porto, uma nova etapa.

Bom Caminho começavam já a dizer!

Ela sabia que o caminho já tinha começado. No momento em que dissera a si mesma, VOU! Comigo, sozinha, vamos... tudo se começara a abrir.

Sabia que a roupagem começara já a cair... a mudança era inevitável. As resistências iam-se afrouxando, e sabia que era para a frente, restava-lhe Avançar.

E não havia como escapar à despedida, ao silêncio, à morte e ao luto. À variedade de sensações que lhe escorriam na pele. A vontade, o entusiasmo, o vazio, a despedida, o largar o conhecido. É que sair à aventura implica deixar o conforto do conhecido, do quente e controlado. E permitir que tudo lhe atravessasse a pele. É que sentir era a ferramenta mais poderosa que possuía. Ligava-a a si e mantinha-a presente.

Ia com a energia da Mãe, da fé, da criadora, nutridora, o suporte da confiança na abundância e a força da vontade, da direção, de ir, e do saber profundo do Pai. E assim levava a sua criança mágica a passear, sabendo-se na presença divina da Família.

Profundamente acompanhada.

No caminho de recordar-se a si mesma.

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