Os encontros encontram-te


Encontros. Sempre lhe permitiam encontrar-se com as suas partes mais fundas e profundas.

A autosuficiência trazia-lhe a rigidez de se permitir ser segurada e amparada. E ela entre risos e lágrimas de alegria... permite-se assumir. Já posso ter companhia, mereço. Sei que sou o meu amparo e consigo sozinha, mas melhor acompanhada e posso escolher. 

E tocam os sinos lá fora.

A palavra é energia que ecoa e se espalha. E os sinos confirmam. Algo foi solto, liberto. E a sua pele torna-se mais permeável, escorregadia. Já pode ser penetrada com uma nova presença.

Em si, reconhece a presença do outro. E permite-se acolher. E as portas de casa abrem-se para receber, para cozinhar. E o coração ainda chora a memória do desamparo e chora os abraços de presença, da companhia que sempre está.

O amparo sempre está à espera que o possamos receber. E tantos são os gestos, as palavras, os abraços, os convites inesperados, os toques, os sorrisos, os silêncios. Os nãos, os sim.

A vulnerabilidade escorria-lhe pela pele em forma de suor e lágrimas. E deixava-se estar, permitia que atravessasse. Não precisava mais de se esconder, proteger, justificar ou entender.

Grande parte não entendia mesmo.

E como era gracioso não entender e permitir que a vida lhe batesse à porta e convidasse para jantar.

Era uma sonhadora, uma criança mágica em ponto grande, mas não muito, confiando que a mágica fosse abrindo, cuidando de bondade e amor o mundo inteiro.  Chamaram-lhe em tempos a Alice do País das Maravilhas... talvez fosse. Mas tinha pés e chão. Sentia bem os pés no chão, ainda que não tivesse bolhas, nem calos e estivessem bem hidratados, sentia cada passo, o peso, o movimento, o ritmo.

Era de cá! E embora tantas vezes se sentisse perdida, sabia que a única pessoa perdida era a sua mente que queria compreender, pôr uma lógica, uma definição. 

Tirando a mente perdida, sentia-se lindamente, abençoada por todas as oportunidades, descobertas, caminhos que lhe entravam porta adentro.

Continuava a ter tanto por descobrir.... e isso era tão bom. Saber-se novidade para si mesma. Tantos segredos por revelar e vida por abrir.

É que Amar é ter sempre uma lágrima no olho, reconhecer-se amor em cada rosto, em cada história, em cada ferida aberta, e incluir. Afinal o outro, sou eu em tantas facetas.

E tantas vezes não é fácil reconhecer isso. Mais fácil fugir, bater a porta, virar as costas.

E parar. Reconhecer o Amor correndo o risco que outro não reconheça e te vire as costas e te rejeite é o maior Amor que me posso dar, o da honestidade. O de me acolher, priorizar.

O Amor sempre chega, mesmo que não reconhecido. O amor neutraliza, cura, ama. A semente sempre fica. E acima de tudo, dentro há uma flor que floresce, porque em ti estás.

 E que belos encontros que lhe estão a trazer a uma melhor relação. A ser e reconhecer-se companhia em si e para o outro. Abrir para a generosidade de escutar e abraçar o outro, de se mostrar. De receber as relações do caminho nas mais variadas formas, línguas, ritmos e passos, de se receber a si nos desencontros. De permitir ser atravessada pelos embates, por respirar e decidir ficar em si.

E assumir que Ama, que vê, escuta e expressa o que vai dentro. Não que os medos se tenham ido, mas mesmo assustada avança, já que o caminho é para a frente. E encara todos os seus sustos, confusões, indecisões, o sim e o não, o ruído mental. E acha-se cada vez mais piada na sua atrapalhação. Quando se baralha e não sabe o que fazer, e quando faz a birra, e quando se irrita. Tem um feitio de merda e também o melhor do mundo, o seu único e irrepetível.

Já não quer ser perfeita! Às vezes a sua mente esquece-se e tenta controlar, criar barreiras e tudo para vigiar. Mas depois vai o corpo, o sentir e manda tudo abaixo. E a festa por aqui é sempre garantida. Movimento e dança para coordenar os passos e pôr ordem ou gerar mais caos. Que é tudo o mesmo!

Importa é criar, circular e agitar! 

E partir mais uma casca!

E se achas que entendeste alguma coisa...vem a vida trazer novas perguntas.

E procuras uma foto para ilustrar o texto e encontras esta que te coloca numa mandala de pedras, e aí estás no centro de um altar natural no meu meio da natureza à beira mar. O mesmo lugar pode ser visto de ângulos infinitos. E sempre encontras e voltas a encontrar e encontrar-te. As formas mudam.

Onde íamos mesmo?! Encontros. Isso encontros com ela mesma. 


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