Cuida de sentir


O avô morreu!

Assim se despertava ela. Admirada com tal notícia e a querer saber o que tinha sucedido. Como morrera ele? Como? Era só a questão que lhe vinha. Estava surpresa. Até que à medida que foi chegando a si percebeu que já não tinha avós neste plano.

Que viagem.

A viagem ao mundo dos mortos e dos vivos. E quão mortos estão os vivos e vivos os mortos.

Podes sentir. Podes expressar.

Dizia ela, a que sabe.

E a criança respondia: mas, como posso sentir? não há aqui ninguém para me agarrar. Estou sozinha. E se desmorono?

A que sabe: Experimenta sacar a tristeza. Estou contigo, estás acompanhada.

E a criança assustada, olhava para todos os lados e explicava: Tenho frio e nada me aquece. Não me vêem. O colo não vem. E o choro sai baixinho contido para não fazer ruído. Se incomodo mandam-me calar.

A que sabe dá-lhe a mão e o calor começa a subir por todo o corpo. E a criança começa a aquecer e recordar-se.

O cuidar de cuidar-se da criança interna que leva dentro é dar voz à sábia que vive dentro. A que sabe dá tantos sinais para que a possam ver e incluir.

E tanto há por incluir quando caminhamos cegos, perdidos e distantes do ser que anima. A alma sempre sabe o caminho e pede para estar cada vez mais em sintonia in corpus.

Distraídos buscamos fora por aquilo que jamais podemos encontrar, já que dentro já está. E como o que já é leva dentro a ser visto, ouvido e incluído.

Quer-se ser outra coisa que não se é. Acha-se que ainda não se está pront@. Que ainda não se é, não se chegou onde era suposto, que há que descobrir e caminhar e tirar mais um curso e outro, e colher mais experiências. É preciso explorar mais. 

Há uma fome por saciar.

Algo precisa de ser preenchido. E nessa manhã a sábia dera a mão à criança e aí, ela pôde sentir-se. E a tristeza deu lugar à alegria. A circulação fazia circular a energia e o calor aquecia-lhe o coração e a alma florescia, ganhava mais espaço dentro para se expandir. Era recebida.

Dentro, podia ser a sua casa, amparar-se e acompanhar-se para todo o lado. E essa era a sua maior proteção. Poder sentir, emocionar-se e sentir-se confortável aí.

Não era preciso que fora a compreendessem, que entendessem a sua forma, pois tinha-se. Recebia-se na inconstância, na incoerência, na fragilidade, na força. Tudo em si a juntava e transformava.

E só podia estar aí, porque um dia faltou o abraço, o colo e o amparo. Foi o abandono que a fez encetar a jornada de regresso a casa.

É que a jornada do sentir é a cura e curar-se. É o dar permissão internamente para que as portadas do coração se abram e as águas vivas possam jorrar.

Como poderia encontrar o caminho se não se tivesse perdido. É quem procura sempre encontra.

E o avô do sonho, estaria por estes dias a cumprir mais um aniversário, neste plano 100 anos.

E a força de vida vem da ancestralidade que sob todas as circunstâncias e dificuldades disse SIM à vida e contribuiu para que a criança e a sábia cá estivessem.

E o mau cuidar e o bem cuidar na polaridade sempre procuram unificar-se no CUIDAR. É que quando um se recebe na totalidade, tudo inclui e apresenta-se na presença de sentir-se e aceitar o que vem e como vem.

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