Atravessava os véus das suas pulsões. O desassossego que lhe atravessava o peito, que a fazia escorrer. Os os sonhos agitados que lhe marcavam a impertinência do dia.
Há burburinhos que fazem muito barulho e silêncios cortantes. Saudades que apertam, memórias que se avivam.
Há olhares que vêem. Compreensões que levam tempo a chegar, gestos que reconciliam. Banhos molhados de sabor a mar, gargalhadas, surpresas. Embates com o real, chamadas que fazem brilhar. Corações sempre abraçam corações.
E o seu era tão humano, que desconfiava ser imperfeita. Sentia-se agitada quando tudo o que mais queria era estar calma. Controlava quando queria permitir-se. E era um poço de incertezas, quando queria suportar-se da certeza de uma definição. Era uma perfeita incoerência.
E começava a afeiçoar-se à contrariedade que lhe habitava e que de tempos em tempos lhe agitava as marés internas. E sempre que as águas pareciam mais calmas, cresciam-lhe cogumelos gigantes selvagens a mostrar-lhe novos trilhos e aventuras por explorar. E lá se acabava o sossego. Nascera exploradora do submundo.
Vinha soltar das masmorras os medos que desconhecia ter e que de tempos em tempos eram iluminados para que os visse, e assim os pudesse soltar.
Trazia o bastão da liberdade e o pé de dança. E bailando ia seduzindo os medos para que se revelassem. Nas mãos trazia a magia do afecto e do toque para receber, acolher e abraçar o sombrio.
No sorriso ia reconhecendo e recordando o pulsar do tambor. E a casa crescia.
Acalmava as tormentas. Não que acabassem de vez. De tempos em tempos ela precisava de uma tempestade. Para que pudesse praticar estar em si mesma, e crescer mais um pouco dentro de si.
Havia tantos cabos por dobrar, mares por navegar e universos por conhecer. E precisava de se perder para encontrar novas coordenadas, novas orientações, trilhos e caminhos.
Na insondável estrada da vida, tantos são os trilhos, os caminhos, que não há chegada que não seja uma nova partida.
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Cuspidelas