Limite

Proteger do mundo é proteger-me de mim. Da loucura que levo dentro. Perceber que tenho o limite da pele que faz a divisão entre o sistema interno e externo.

E como não saber que existe pele, limite faz tropeçar, não se reconhece o limite do chão, do espaço, do outro. E o limite é marcado pela pele que me separa de ti.

Talvez seja a noção de ligação, do cordão umbilical que torne difícil a separação da pele. Que tu és tu, e eu sou eu. Somos seres diferentes, separados, ainda que possamos acompanhar-nos.

E se não defino o meu espaço, o meu limite ou abuso ou sou abusada... E não é por mal, é para que aprenda. Aprenda que tenho pele, vontade, limite. Que sou separada, que sinto e o meu sentir pode ser diferente do teu. E ainda assim podemos conviver e partilhar o mesmo espaço, respeitando a vontade de cada um.

A memória do umbigo, de que alguma vez estiveste fisicamente ligado dá-te a ilusão de que para pertencer tens de te condicionar à vontade, regras, protocolo dos outros. E sim, somos todos um, mas diversos. E podemos estar ligados à grande rede Wi-Fi com a unicidade de cada um. É o grande mosaico colorido que com as diferentes notas e sons forma uma musicalidade maravilhosa, a nossa Humana Cósmica.

O abuso vem sempre que precisas de recordar que tens limites. E o limite sempre te devolve a ti, para dentro, em ti. E que em ti podes descobrir o prazer, a alegria, as sensações variadas dos sentidos e desfrutar do templo que te permite caminhar nesta encarnação.

E se achas que o abuso vem de fora.... ele apenas vem recordar de como te abusas, desmereces e não te prestas atenção. És templo sagrado, não objeto, não máquina. E esse templo precisa de cuidados. Do combustível correto para funcionar da melhor maneira. A alimentação sana, o sono reparador, o descanso, o movimento, a dançar, o prazer, a quietude, a limpeza, o afecto, o toque, a manutenção.

E quando fico à mercê das circunstâncias, da vontade do outro,  quando não defino as minhas regras e direção de mim, quando a minha vontade é abafada e silenciada estou por aí sem travões, à solta, à deriva de mim.

É deixar ao desamparo, ao abandono, à espera que qualquer maré me leve para qualquer lugar..

É que ser Prioridade de Si mesm@ é pôr o limite, a regra, definir a lei de como é. E nessa linha os limites estão definidos de forma tácita. A energia sabe o caminho. E o que emanamos é claro, quando bem definida está a vontade e o limite internamente.

A decisão do Amor, o próprio é definires o limite de cuidar de ti em primeiro lugar. E ao fazer o Amor contigo estás a emanar e contagiar esse amor com todos os outros.

Desenvolver a vontade espiritual é ter bem presente os princípios e a ética do teu coração e ajustando a estratégia e a táctica com a flexibilidade, saber que a lealdade e a verdade interna é firme e segura.

E à medida que os limites se definem o campo é alargado e expandido. Em ti estás, a energia é compacta e presente... já tu chegas e estás em todo o lado, não há fronteiras, quando reconheces a qualidade da tua energia e do teu ser.

E sim. É preciso ir olhar. Para o abuso, para as partes fragmentadas e fragmentárias e querer ir buscá-las, resgatá-las. Deixar ir o sofrimento, as penas, as culpas, as vergonhas, as raivas....para voar é preciso soltar. E só quando se vai lá olhar, deixar o passado no passado é que se pode avançar.

Como andam esses limites? O que te contam eles?!



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