O LADO B


Recordo-me da revolta que me acompanhava respeitante aos desequilíbrios do mundo. O contraste da riqueza e da pobreza.

Como é possível ainda hoje haver gente a morrer de fome e a miséria de um lado do mundo e do outro o desperdício e ostentação. Lembro-me com 23 anos entrar no Vaticano e ter sentido asco e toda uma série de emoções... a sério?! Não foi isto que me ensinaram na catequese... isto é praticar o bem?! Museu repleto de joias e coroas e ceptros e sei lá mais o quê dos papas e da igreja 😖😕😔 

Vendam os ouros e as joias da igreja católica e alimentem as gentes. Queria ser missionária e salvar o mundo. Achava ter as soluções para o mundo na algibeira. Simples assim de equilibrar, vamos lá dividir por partes iguais e dá para todos vivermos bem. 😃😇 Ingenuidade e inocência a minha. Well, ainda hoje acho que é simples, mas a ganância, a ilusão de um poder e controlo, e a cultura do ter, do estatuto ainda nos cega.


Do que precisamos mais para Acordar?!

Fui abrindo os olhos e percebendo que só por contraste podemos ver a Luz. O desequilíbrio ativa o mote para nos pôr a mexer. E fui devolvida com uma pinta muito grande a olhar o meu mundo interno. A não me distrair com o mundo lá fora. E a resolver alguma coisa seria dentro. Juntar o separado, unir-me e curar as minhas feridas. Só assim poderei ser medicina para o mundo lá fora, sem ter que levar a pretensão de querer ajudar.

Já que tu és eu e eu sou tu, ao me curar a mim, contribuo.

O QUE ESCOLHO SEMEAR, QUANDO PERCEPCIONO O CAOS LÁ FORA?

O que é ativado dentro de mim?!

Quando a censura aperta, quando a expressão é condicionada, os passos e as decisões tomadas te limitam a liberdade e tentam pôr-te vendas na boca e nos olhos para que te VENDAS... és obrigad@ a olhar.

E são ativados em ti as memórias onde já estiveste pres@, amordaçad@, abusad@ e confrontas-te com as tuas próprias prisões e amarras. E de repente percebes que a liberdade é mais ampla... e que espaços abertos e fechados tens dentro de ti. Que crenças, medos e confinamentos levas dentro.

E que há um controlador e autoritário tão forte dentro que manipula para se sentir seguro e que marca limites e tem de se assegurar que sabe tudo o que acontece no entorno. E encontro-o no governo, no vizinho, nas figuras mundiais ditatoriais, na igreja, nas redes sociais, na mãe, no pai, no companheiro, no patrão... mas isso são os outros.

Que cá eu... sou do contra, boa pessoa, evoluída! 😆

Nada está fora de mim! E a realidade onde vivo revela-me a dualidade, a separatividade, a neurose que se manifesta dentro. E quando tudo parece estar a colapsar, a ruir e a separação cada vez mais abismal resta-me ir lá olhar e amar. E sabemos que nem sempre é fácil amar e desenvolver compaixão pelo atroz e cruel que vive dentro.

E incluir o lado B e todos os lados inspiram-me a fazer melhor a criar novas narrativas e possibilidades. Só com a calamidade percebi e dei-me conta das prisões e amarras e do controlo que me punha. Tinha medos e não sabia. E precisei que algo de fora me viesse disparar para que arriscasse mais.

Como não agradecer ao que veio Afirmar a minha voz?!

E sim sai tanta merda cá de dentro, confusões, controvérsia e contradição. E também sou isso... desamor, desamparo, cega, egoísta e desumana.

Se há outro humano lá fora que o é, também eu ainda o sou. Ainda mora essa informação nas minhas células, e resta-me amar, até que o amor possa curar todas as feridas e possamos sentir a força da união e da vida. E confiar no curso do percurso.

Enquanto isso... vou dando a mão à medida que me vou dando a mão.





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