Era fogo ardente. Queimava por dentro e por fora. Guerreira trazia a arte de guerrear, da espada e das armas. Rompia as barreiras, destapava o oculto. O profundo chamava-a. Tinha de escavar, revelar.
Precisava. Precisava-se.
Encontrar-se em cada morte, deixar-se morrer. Renascer das cinzas. Purificar-se, transformar-se.
Precisava-se sentir novidade para si mesma. E por isso destruir de tempos em tempos a casa que habitava. Dar-lhe uma nova ordem, pôr-lhe um caos, o motivo para voltar a reconstruir.
De tempos em tempos precisava de deixar de existir. Só dessa forma poderia voltar a recriar-se.
Era Sol aMarte regida pela sensibilidade lunar. E como pôr a dançar a guerra com a vulnerabilidade?
Dois opostos que se atraem. Um magnetismo que repele e que vai aproximando. Pouco a pouco.
A gentileza na guerra e a força na sensibilidade. O encontro sempre se procura, na inevitabilidade de terem escolhido viver juntos.
O desafio? Reconciliar. Criar a ponte para o diálogo. Afinal gostava de dançar. E são precisos dois para formar par.
E para se tornar sol precisava de levar a expressão da sensibilidade, sem que ela a tomasse e confundisse. Ela era Sol. Bélica, guerreira. E como aceitar-se Fogo, sensual, ardente, cheia de flores, rios, fontes, riachos, com toda a família e casa dentro?
Ambos precisavam de fazer o Amor, na promessa de se amarem para sempre e de mãos dadas deixarem cair a lágrima, agarrar a empatia, a ternura e compaixão para desbravar o caminho da consciência - a autonomia de se ser o que é. Ousar ser, a audácia de criar, abrir caminho e seguir a distribuir a Água ViVA, da Fonte.
A chama da guerreira espalhada na memória das águas que fluem, que correm, que abrem, que contagiam, que abraçam.
E se as asas de fogo são gigantes, aquecem, abraçam, a água não arrefece, segue o curso dos corações abertos que borbulham a vida quente que corre nas veias.
E o profundo circula, porque respira. E a terra recetiva, as águas da mãe recebem o fogo sagrado do pai que fecunda. E a criação continua a gerar-se continuamente.
As sementes sempre são germinadas quando o amor se faz em cada célula que se acolhe, se inclui, se vê, se olha. Sempre que se inclui a fusão acontece. Recordamo-nos que somos juntos, que somos fonte, energia, comunhão. Estamos, somos, juntos, Unidade, Unos.
E na parte, tornou-se Todo!
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