A forma, o limite, o desenho

 


Percebia-se enquanto aprendia e se desprendia. Não havia lugar nenhum onde chegar. E as suas raízes caminhavam mais firmes.

Que melhor teste poderia receber senão os da vida. Os que a faziam tremer e descobrir partes de si que nem às paredes queria confessar.


E ainda assim receber-se. E quando parecia que tudo estava perdido... eis que se voltava sempre a encontrar. Os encontros no centro de si mesma.

Expandia limites, descobria limites novos. E para isso tinha de se exagerar, de romper e até às vezes abusar-se para que sentisse a pele e o limite da carne. 

Podia ser violento, agressivo. Mas só na potência e tempestade conseguia perceber-se. Levava tempo a ganhar-se... e gostava dessa sedução em si e consigo.

A vida crescia na aventura de descobrir novas formas. E novos Nãos! E novos Sim!

É que o limite mantinha-a livre, segura, responsável pelo seu cuidado. E era desafiada lá fora, para que se afirmasse melhor.

Encontrava espelhos nos outros. Os abusos, a fragilidade do querer entrar sem pedir licença. Da criança caprichosa, que faz a birra e não quer ser contrariada. Quero. À minha maneira. Quero mandar. E desafio e manipulo até que venha até mim.... o fruto do desejo. O meu pecado.

E quantas crianças caprichosas encontro em espelhos meus. Sedentas por amor e mendigando por aí, por pequenas medalhas e conquistas de egos orgulhosos.

E como aprender? Se não aprendendo no caminhar. E os passos sempre vão revelando.

E acolho as minhas partes nos espelhos dos outros, reconhecendo o meu também. Onde abusas és também abusada.  É que a troca sempre se faz. E os acordos tácitos sempre vêm por amor.

E a liberdade vai-se conquistando à medida que se inclui as partes. Nada há para expulsar ou excluir. E se acolhes, curas.

E como os limites não limitam quando ampliam a vontade e o respeito pelo ser. 

Nada se espera. Tudo se expressa. E a liberdade de poder estar em si é a melhor conquista que se pode ir fazendo.

Bem querer. Bem me quero. E se bem me quero, bem te quero. São espelhos. E os espelhos sempre refletem. E não precisam de querer. Apenas cumprem a sua função.

E mais um ano parece chegar ao fim.... e tudo caminha bem mais rápido. O movimento sempre movimenta.

E onde andas tu?

A vida segue e vou com ela. Ela sabe para onde me levar. E aprendo a soltar e de braços abertos não se agarra nada. Experimenta-se o que vem pelo tempo que for necessário ficar.

É que o Amor apesar de poder doer sempre vale a pena. Repetiria novamente para poder receber, dar e crescer junto. Já lá vai um ano que te foste. E a saudade segue apertando o peito. E é amor que mora aqui, por ter podido viver 8 anos de tanto.  Voltaria a repetir-te e também isso me diz tanto sobre viver. Que tem tudo e há de tudo. Não há como ficar apenas com uma parte. Há que agarrar quando vem e acompanhar com todo o ser.

Começara a invernar. E gostava. De se revisitar. De se sentir, aquietar, parar e acolher-se no seu abraço. Saber-se a melhor companhia em cada passo, em cada desafio. E o quanto tinha crescido. Quantos limites em si tinha ultrapassado. Quanto se tinha aberto. Quanto se tinha atirado para a vida, sem rede, com medo e com confiança. Quanto se tinha rendido. Quanto tinha derrubado das suas ideias fixas, quanto se tinha vulnerabilizado.

Quantos não sei abraçado. Quanto rebuliço, ruído e incomodo tinha suportado dentro de si... e reforçado o passo para continuar seguindo.

O não saber tornava-se cada vez mais confortável. Estava mais viva por se saber aventura de si.

Era mulher. Recetiva, feminina. Dual, vertical, síntese, centro, vórtice. Amor.

Tinha curvas. Limites. Sensuais. Delimitavam-na, abriam-na. Enraizavam-na. Era livro, desenho, cor, forma.

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