Pertencer



Precisamos sentir que pertencemos para merecer. Merecer estar, receber. É um estado de permissão.

Já posso?


No caminho de amar e se sentir bem vinda cá.... nesta terra, neste mar, neste sol, neste vento. Não se lembra de ter pedido licença para entrar, mas entrou.

E a comitiva de boas vindas nem sempre é muito clara no Welcome to this World!

E como pode... se anda meio mundo fundo fodido atrás do outro para o foder. E tudo por amor. Do instinto, do que se sabe para matar a fome.

E rapidamente se aprende a agradar, a não incomodar, quais são as regras, o protocolo, o que deve ser cumprido para garantir que tenho o meu lugar e posso pertencer ao clã.

É que sem ele não poderia sobreviver. E por amor cego quero salvar os meus para que me vejam, reconheçam e quiçá possa receber de volta amor. E enquanto não o receber e não estiver satisfeita vou continuar a batalhar, para provar que sou digna de amor.

E o bebé cresce, a criança, a adolescente e a adulta enquanto caminha cega vai por aí.... repetindo-se. Para que a grande família a veja. Vejam que linda menina, bem comportada, bem sucedida ela é. 

Só que Não! 

Começou a olhar para dentro... e perceber que fizesse o que fizesse enquanto procurasse fora nunca seria suficiente. E sempre arranjaria forma para destruir relações, apegos, ilusões a que se tentasse agarrar. Ela vinha com a missão de se despertar. De se segurar e sustentar a ela mesma. Era guerreira do coração. Mulher fogo e menina de água. Ora desbravar caminho, com a força da vontade e a vulnerabilidade do sentir. A chama ígnea de um coração puro e sensível. E à medida que se reconhecia pertencia-se mais um pouco.

Viera para nascer e renascer muitas vezes. Era parteira de muitas vidas que levava dentro. E ia-se pertencendo à medida que se descobria e acolhia.

Os outros?! Os maiores mestres que lhe mostravam a fractura, a fragmentação, a loucura, a disfunção que transportava. E tanta cura, dança e sanação que viera fazer consigo. E tanto amor por pertencer.

A pertença levava-a a dentro... e caminhando assim segura que se habitava e levava dentro podia reconhecer mais família ao longo do percurso.

E fazer a paz. Reconciliar a sua crítica e juízo. Respeitar a escolha de cada um. Não interferir. Não precisar de ter razão, de estar certa ou errada. Pertencer no diferente, no diverso era a aprendizagem que vinha fazendo.

Derrubar expetativas, projeções, controlo, falsos poderes e arrogâncias. Nos olhos dos outros via-se, escutava-se e ia-se recebendo pouco a pouco, sem pressas, nem culpas.

Às vezes vinha-lhe a vontade de controlar, o querer que fosse à sua maneira, ou o simples querer. E aí silencia, respira-se e abraça-se. Estou aqui para ti. 

E habito-me mais um pouco. Afinal precisava recordar-se que pertencia.

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