Podia?!

Ela vinha podendo tudo, e podia de boca bem cheia satisfazer a sua vontade e desejo. Por que não o Desejo?

Foi assim que Eva pecou comendo a maçã do prazer. E há formas mais certas de ficar. E carregando a cruz, sempre se arranja forma de partir.

Que parte é que fica intacta? Que parte é que mudamos? O inteiro não tem parte.

E o medo de se perder no outro é de mascarar os vazios no colo do outro. E se a boca que não cala diz o que sente e expressa o que quer? 

E se o susto da repressão se torna em coragem de exprimir o que vai dentro? E tudo se acomoda. Conseguimos. É ver que conseguimos. Que tudo circule.

Na sensação do aperto, sempre me cruzo comigo. E desprevenida me apanho nas versões desconhecidas de mim. E desmonto-me. E permito que os desvios sucedam. E de que me serve esconder de mim?

Se o que me revelo, acrescenta.

É no desabafo que escuto o som da respiração e da aflição que pulsa. E no incómodo encontro novo colo em mim.

Sou... ai se sou! E descubro novos encantos no que antes atormentava. 

É que tudo em mim resplandece quando ilumino. E o que é o sombrio se não o não visto, o criticado?

E o desejo sempre pede para ser saciado. Quer ser sacrificado e purificado.

Será essa a purga. 

É que o desejo sempre pede para largar a cabeça. E que seja o impulso a guiar. E o instinto pode ser o mais voraz, mas também o lugar mais inocente que sabe o caminho.

Que portas são essas que impedem que entres?

Porque achas que tens de saber o caminho para continuar a caminhar?

É que na dança do desequilíbrio é o movimento que direciona e mantém sempre a vida a girar. E tudo se acomoda, mesmo que incomode.

E quando largas o controlo e segues o fluxo, permites que a vida te viva. E nesse rodopio sempre passa tudo. Para garantir que estás sempre num novo lugar.

É que o novo olhar muda a casa onde vives, o que pensas, sentes e dá-te uma nova jinga no movimento.

E se podia, Pode. Pretéritos Imperfeitos sempre alimentam a fantasia da imaginação e reforçam a imperfeita perfeição. E se os P forem trocados por F?  E os Pretéritos por Presentes, ainda que imperfeitos?

É a liberdade ao alcance da brincadeira, das palavras que mexem, assim como os gestos e as bocas.

Guardas-me inteira na alma. E se as palavras continuarem a dançar, guardas-me bailarina na tua mente?

Promete-me.

E assim me imagino bailando, desarrumando neurónios, despenteando o couro cabeludo, fazendo cócegas ao sangue que circula nas veias e bolhinhas efervescentes na água que levas dentro. E bailando vou percorrendo todas as partes do teu corpo.

Podia ser poesia, mas nascera com samba no pé! E língua afiada que tudo transformava.

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