Amar o diferente


Aqueles que representam algo diferente devem ser reconhecidos como iguais. Então já não se precisa de abrir mão do que é próprio deles.

Dar lugar ao oposto, ao diferente é possibilitar a abertura do outro. Dar espaço para que tudo seja reconhecido e incluído. E aí temos Paz.

Há que despedir-nos de imagens internas que nos impedem de reconhecer outras pessoas diferentes e conferir-lhes os mesmos direitos que temos.

O processo essencial de cura é unir dentro do nosso coração o que achávamos oposto e contraditório. 

Fomos tão habituados ao certo e ao errado. Ao padrão, à norma, ao socialmente aceite e convencional. Que tudo o que sai fora da caixa tem um longo caminho a percorrer.

E para pertencer ao clã, à nossa biografia e linhagem acedemos concordar e continuar nas mesmas lentes. Até mesmo porque é mais fácil amar o que reconhecemos como igual.

Recordo-me do choque que tive quando aos 18 anos andei pela primeira vez de avião para ir a Londres e ver tanta gente diferente, a multiculturalidade espalhada em cada esquina. Na forma de vestir, de andar, de estar. E estava na Europa. Ver pela primeira vez casais de gays de mão dada nas ruas a manifestarem afectos. Eu estava maravilhada com tanta informação. Era mais forte do que eu. Eu nem reparava, mas fixava o olhar nas pessoas. Tinham de me chamar a atenção para ser discreta e não ficar assim. Parecia uma criança a descobrir o mundo, o diferente. Saíra de casa e percebia que o mundo era muito maior do que me haviam contado e visto na televisão.

A novidade sempre atraía. Mas há o choque do diferente. Leva tempo a acolher. Quando o que é ensinado é a proteger e afastar do diferente. E as imagens internas do inconsciente sempre levam a repetir o conhecido.

Leva tempo a amar o diferente. A abrir as portas do coração para acolher e reunir o diferente em nós e nos outros.

Não querer ter a razão, ser a verdade. Ou estás a favor ou és contra. Abrir a mente a novos horizontes e que o diferente não compete é abrir espaço para a convivência, para acrescentar, para o respeito.

Que cada um pode ter espaço para alargar e expandir a sua visão. Isso é também dar espaço para que eu possa fazer o mesmo. E podem coexistir todas as formas. E não tenho de concordar com elas, apenas permitir que tudo possa ter a sua expressão.

E incluir é fazer a paz dentro e fora.

E podia estar a falar de mim enquanto ser individual, e estou, que sigo aprendendo... e reparo que o convite que a minha alma pede é lançado a todos.

É como se tivessem destapado o que durante gerações esteve contido e encoberto e agora vamos lá olhar com olhos mais reais, abertos.

Eu sigo aprendendo a amar o diferente, o oposto e deixando cair o julgamento, a crítica e a expetativa.

Comentários