Ampara-te

As decisões que se tomam levam-nos a percorrer um caminho sempre novo. Mesmo que já tenhas tomado essa mesma decisão no passado. A pessoa que és está sempre a transformar-se em cada instante. Não há como medir. Podes ter referências, mas que as mesmas possam servir de suporte para continuares.

Espera sempre a novidade. Estás em construção permanente. E se no passado a coisa correu bem, não quer dizer que a experiência vai ser idêntica ou melhor. A cada momento mergulhamos mais profundo dentro e quanto mais profundo mais desafiante.

A dificuldade, a dor fortalece o músculo, o tónus e permite-nos por camadas aproximar-nos das raízes do que se repete.

Estamos sempre a tentar, no intento de habitar melhor o ser, de estar em maior autenticidade e alegria do ser. Mas há condições, faltas de permissões, lealdades que nos impedem de prosseguir para a vida plena. E enquanto não olhamos, não encaramos e não nos permitirmos fazer o percurso de conquistar mais liberdade interna seguimos contraídos, condicionados.

E às vezes repetimos os mesmos padrões dezenas, centenas de vezes, com novos rostos e circunstâncias, mas sempre a tocar na mesma tecla. E como rabo de pescadinha na boca não conseguimos sair da roda. É que o conforto de estar no conhecido leva-nos a repetir, a encolher os ombros e a resignar. É o que é, a vida, a narrativa, tem de ser assim, é a história da minha vida. Gostava diferente, mas tenho de me acomodar.

E quando há esta consciência e nada se faz... é uma morte lenta. São corpos vivos que caminham mortos por dentro na sua vitalidade e alegria.

E claro que o caminho da decisão, de cair uma e outra vez, de esfolar os joelhos e o corpo todo, de doer, de pagar o preço pela escolha diferente. Por abandonar o padrão da norma tem um preço, mas a liberdade de poder voar não tem preço. Assumir a responsabilidade pelo seu próprio destino é liberdade.

E na magia de se sentir vivo há sempre processo. É que crescer dói, mas é uma dor que liberta que nos torna mais leves. E que permite entrar em contacto íntimo consigo mesmo.

Conhecer é um processo constante e não dar-se como adquirido e definido. É a evolução de se ir aprendendo e desenvolvendo. E nessa exploração e descoberta ir-se ganhando intimidade com tudo o que acontece dentro. Aceitar o que é. O ritmo próprio, as dificuldades, olhar-se com ternura e compaixão. Receber-se.

 E ainda que repitas também abraçar a repetição, pois na verdade o ser que está nunca repete da mesma maneira. Vai curando pouco a pouco as suas dores. É que o sintoma, a doença e a repetição do padrão traz em si a oportunidade de renovar a consciência. E a memória e o instinto também regista o que doeu e prepara para "evitar" que se repita. Fazer trabalho com isso já é opcional, mas enquanto houver vida ela fará de tudo por continuar a tentar-te Acordar. O nível de dificuldade e de desafio vai subindo para ver se te sacode.

E interessante que a vida nunca desiste de ti. Porque desistes tu de ti mesm@?

Ampara-te. Sê o teu melhor amparo.

Afinal nasces só e vais só... que possas ser a tua melhor companhia.


Comentários