Deixa ir


 Deixa ir. Recordo-me da criança que fui lá atrás que facilmente passava de uma atividade para a outra, que só conseguia estar num único momento, o Presente. 

Olhando o mar, a criança diverte-se a assistir ao vaivém das ondas e aproveita para brincar com ele. Correr na areia molhada quando a onda recolhe e fugir dela quando começa a vir. O jogo da apanhada.

Mas antes observa atentamente os ciclos das ondas, o desenrolar, ali está contemplando, apresentando-se.

Tudo implica relação. Iniciar a relação, o envolvimento com a dinâmica que se estabelece. Não importa por quanto tempo, mas que os intervenientes se apresentem. E que comece a dança.

E olho-te criança. Revejo a minha. Criativa, alegre, sempre disposta a explorar o mundo.

E mesmo que se conheça a praia e o mar, é sempre a primeira vez. Porque é daquele momento que se trata a experiência a ser vivida.

Deixa ir diz a criança, desprendida, solta.

Quiçá venha um pouco de areia nos pés que me recorde que passei pela praia. Mas tudo passa. O tempo, os momentos, os maus e os bons e também eles devem ser soltos.

É preciso criar espaço. E se a memória estiver ocupada não tem lugar para novas. É preciso recomeçar, fazer resets. Instalar o programa do Presente. E sintonizar com a brisa, com o mar, com o sol e a terra. 

Escutar a voz que pulsa cá dentro e nos anima.

Deixa ir as amarras, os apegos, as contrações, as resistências, as vozes que travam, que julgam que impedem que avances.

Leva pela mão a criança que tens dentro para que ela se sinta acompanhada e saiba que se tem espaço dentro do adulto para se expressar.

Deixa ir as vergonhas, as culpas, os preconceitos, os julgamentos.

E se não estiveres de acordo com o que a norma pensa e acha correto, segue com a coragem de mão dada contigo para o teu destino. Vieste para ser feliz. 

E somos todos diferentes, cada um com a sua assinatura e dom. E tão bom sermos diversos e diferentes. Une-nos o mesmo coração. 

Deixa ir o querer encaixar, o querer pertencer. Habita-te a ti mesm@ e a tribo corresponente virá a teu caminho. 

Podemos achar que buscamos a verdade da nossa Alma, mas é ela que vem ao nosso encontro. E se estivermos despertos para receber as ondas e brincar com elas dançamos e corremos com elas como a criança que se diverte na apanhada, seguindo o ciclo, o ritmo e o baile de cada onda. E sabemos que às vezes saímos molhados.

Mas também isso faz parte da jornada, da brincadeira. Desenvolver a habilidade de responder cada melhor com o nosso centro, a nossa chama.

Coração deixa ir e deixa-te ir embalad@ nos braços e abraços da vida. É que se é para sentir aqui há de tudo, vem a festa completo com o cardápio de todas as opções. E experimentar de tudo fortalece-nos o tónus, a humildade e o Amor.

E é disso que se trata aprender a ser humano.

Deixa-te ir para aprenderes a amar melhor e deixa ir que também isso é libertar com amor o que já cumpriu a sua função.


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