Sintonia

Sempre que se ligava sentia. Sentia o pulsar da terra, o uníssono da melodia que toca.

De onde vinha. A sua pele tinha tantos corpos. E graças a a eles podia estar neste corpo, nesta história, neste país, neste tempo.

E prestar atenção focava-a no presente. Vazio, disponível para que se sintonizar com o passo seguinte.

Escutar a mensagem, o tom da palavra escrita, do intervalo entre as palavras, o não dito. As ondas que entravam pela casa dentro. As chamadas feitas no silêncio, os recados passados, as caras lembradas, o desejar o bem a quem se atravessa com rosto ou sem rosto. 

Sintonizar com o que é, com profundo respeito e reverência para que seja mostrado o passo seguinte. Não querer alterar uma única vírgula. Aceitar o destino. O caminho que ele quer seguir. 

A sintonia fortalece e dá a clareza para a criação seguinte. Não há pressa. É preciso esperar. Vagar para que o que tem de vir venha no tempo certo.

Esperar o que venha sem desesperar ou expetar. É esperar com a isenção de julgamento, de querer. A experiência sempre vem para ensinar.

E a sintonia permite que o baile seja conduzido, que a alma se abra ao que quer experienciar. E sempre que experimenta há movimento que retira do lugar e vai evolucionando para novos.

Incluindo o que vem. A força da sintonia sempre nos conduz a melhores respostas, a reunir e aceitar o que vem. Devolve-nos à inteireza do ser. Está completo.

E aí a reconciliação e a paz estão ao serviço.

Os sintomas, os desequilíbrios vêm cumprir uma função. Identificam que algo está protegido, escondido que precisa de vir à luz para reunir. E aí emerge a possibilidade de reunir, voltar a juntar.

A sintonia quer regressar à raiz, à unidade, à comunhão. Sempre pede a totalidade, a relação.

E assim aí treinando a sintonização dentro dela. Com as sensações. Com toda a máquina que em sintonia ia respondendo vitalidade e movimento. Com a força de vida do seu sistema familiar que a sustinha. E dentro do sistema, os sistemas maiores, a grande rede que ia reunindo e integrando dentro de si. 

Encontrando o tom, a sinfonia da grande orquestra, sintonizando no pulsar primordial do coração que bate.

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