Senegal lugar de encontro


Aterrei em Lisboa dia 10 de fevereiro. Mas regressar leva o seu tempo, ainda não sei se cheguei, nem quem voltou.

A intensidade da experiência sempre nos permite contactar com partes novas dentro. Descobrir o que estava oculto. Reafirmar valores, habilidades tão intrínsecas que se tornam cegas aos nossos próprios olhos.

Do que serve achares que tens determinados valores, princípios e tudo... se é na prática, na experiência que contactas com o que é real em ti. E descobrires que há tanta abertura já integrada em ti, que te surpreende e te faz deitar por terra medos criados pela mente, pela cesta cultural, pelos estereótipos. 

Ir sem saber para onde, confiar que se vai ser bem recebida, com a humildade de que nada sabe e que tudo tem por aprender. Emoção, curiosidade, vontade de explorar, querer saber e aprender.

Aqui encontrei Riqueza. Riqueza de Vida em cada ser humano. Fala-se de pobreza. Mas aqui neste sítio vi partilha, gente simples. Não encontrei pedintes. Encontrei olhares, a curiosidade de saberem o teu nome e de onde vinhas. Abrem-se questões e reflexões sobre conceitos enraizados e estereotipados. Vemos ruas de terra batida, a falta de arruamentos, a falta de autoclismos e ter de despejar a água de um balde para a sanita e rapidamente associamos a falta de condições. Institucionalizamos conceitos e definições. E invadimos o modo de estar, as tradições, a cultura dos outros com o que consideramos acertado. Esperava olhar para a realidade de África e vir com esse conceito de pobreza que passam na tv reforçado. E na verdade, encontrei outra coisa. Jovens vindo da escola alegres, a vida a acontecer nas ruas com os mercados, as circulação abundante de motos e alguns carros e táxis. Movimento, gente criativa, colorida. Com vestes tradicionais e também ocidentais. 

Reconhecimento. Reconhecer África, terra minha. O diverso, a cor, a natureza viva lá fora e no coração das gentes. A comunidade nas ruas, os sorrisos, a partilha, a generosidade, o respeito, os olhares.  O quererem saber de ti, o desejar a Paz.

A PAZ. A grande palavra usada em abundância no empreendedorismo, na relação, na autonomia, na independência. A construção da Paz. A importância da reunião dos jovens, os promotores da partilha, do reconhecimento que somos todos um, da colaboração, da sinergia.

Nunca tinha ouvido falar tanto de Paz. E claro, que o reforço e a valorização da paz só existe quando se conhece o outro lado, a sombra, a guerra, o conflito. Ainda num passado muito recente, até1989.

Fazer a paz é trazer uma nova luz, é reunir numa nova visão ed equipa, de todos juntos. Todos importam. E fora da zona de conforto, fora de casa, o grupo sempre se move junto, protege-se, partilha-se, procura pontos comuns, de reunião, de encontro.

Desfazem-se barreiras. Não importa qual a tua cultura, religião ou língua. Encontraremos sempre uma forma de comunicar e nos pôr em comum. Seja com google tradutor, fotos, gestos, sorrisos, olhares e tentar ajudar o outro a fazer-se entender. Somos coração, gentileza e bondade.

Impossível não sorrir. Impossível não abrir o coração ao abraço, ao toque. E não são precisas palavras para sentir a bondade do outro.

Não importa que terra estejas a pisar. É sempre terra mãe, generosa, fértil em aprendizagem e amor.

Foram 10 dias que pareceram muitos mais. E só 3 dias depois de chegar começa a sair qualquer coisa. Agradecimento. Agradecer-me por me ter permitido ir, nestes tempos conturbados, a valentia de atravessar medos e caminhar no desconhecido para reafirmar mais um pouco que estamos sempre acompanhados. E tão bem acompanhada fui de boa gente.


Comentários