Mãos

Há mãos que ferem. Há mãos que curam. As mesmas mãos que matam são as que alimentam, as que abraçam. As que separam e as que juntam.

No embate, no choque permito que doa. E mando abaixo as resistências. Do ter que ser forte. De fazer de conta que nada me toca. Que sou forte, que aguento, que tenho de aguentar. Dar-me permissão.

Permissão para falhar. Para fraquejar, para permitir que venham os sintomas, que possa doer, que possa ser atravessada pelas feridas escondidas e pô-las a descoberto. 

Permissão para sentir. Para deixar cair o correto. E deixar-me levar pela vontade do corpo, ainda que o sentir queira outra diferente. E permitir-me viver o controverso, o perverso, o sem sentido até que o carne se deleite em total satisfação.

A crueldade mata-nos por querer impor uma norma, um nome e uma vontade. Se cada um pudesse expressar o que leva dentro honrando a liberdade de ser imperaria o respeito. Não haveria necessidade de fronteiras. Quando cada um conhece os limites aprende a honrá-los e a amá-los. Identifica-os sem os impor.

E olhar-me na resistência é acolhê-la, respirá-la e relaxar no mais profundo. Permitir que venha o sintoma, que atravesse, que fure, que penetre, que me dispa.  Que o medo atravesse o medo até que ele desapareça porque não tem mais onde se esconder. Porque olhei-o de frente.

Fiz-me acompanhar de tudo o que morava dentro. E o que arde também cura. E nada dura para sempre, nem a própria vida que um dia também se esgota nesta forma física a que chamamos matéria.

E tanta violência vive na bagagem de um passado. E nos medos que se transformam em batalhas de uns contra os outros. Quando na verdade é de mim comigo. Daquilo que ainda não aceito em mim, que nego, que me quero livrar, que contrario, que me envergonho, que quero excluir. 

Dai-me Luz para poder iluminar as minhas sombras e para amar o que ainda é cego em mim. Para reconciliar e perdoar.

Só pode falar de Paz quem conhece a Guerra. E tantas aconteceram lá fora para que pudéssemos acordar as nossas internas. E agora cá dentro já nos vamos dando conta das guerras e ainda assim continuamos a fazer guerras lá fora.  Talvez com tanto despertaDOr possamos Acordar de vez a Paz.

E soltar, soltar a razão, o que foi e o que poderá ser.


E ser mãos que sentem.

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