re Posar



Há momentos em que acho que o pior que me podia ter acontecido é o que se está a passar. Outros há em que o momento passado deixou a marca de ter sido o pior, e fica o trauma de querer proteger-se do voltar a sentir.

Podia ter sido sempre pior. E há o fator de sobrevivência. Sobrevivi.

E o pior que me aconteceu sempre foi a grande oportunidade de ser devolvida a mim mesma e ganhar nova oportunidade de voltar a Amar melhor.

Há desejos que são a ilusão de um falso amor para te distrair e iludir do mais importante. De regressares a ti, de te centrares. E de permitires morrer. Morrer para as velhas estruturas.

Hoje dia 14 retomo a partir desta frase o escrito a 4 de março. Há momentos em que as palavras precisam respirar. E o que está em ebulição precisa repousar.

Dez dias depois volto a olhar para as frases soltas. E tanto passou. O movimento move tanta coisa ainda que aparentemente tudo pareça estar no mesmo sítio.


Há sempre capas a cair. E as demências, as construções, as narrativas velhas sempre vêm à tona dar o seu último grito.

Para que uma nova clareza possa emergir.

Ao mau tempo, boa cara. Não tem de ser mau ou bom, ainda que seja o discurso corrente que nos mantenha ligados a um discurso comum, familiar e identificável por todos.  A todo o tempo ao movimento há que lhe dar espaço, repouso, distanciamento para que novas percepções possam emergir.

Sempre que fecho, encolho, diminuo e determino apenas uma possibilidade e desfecho. E tantos são os ângulos, as cores, as curvas, as perspetivas. Porque tem de haver apenas o lado A e o lado B?

E depois do pior e da morte o que vem?

Uma transformação. Um novo ritmo, uma nova música, uma nova entoação.

Só o desconhecido assusta por ser novo, não estar acessível.

E os dizeres populares sempre trazem o senso comum "depois da tempestade a bonança".

Tudo passa. Só tens de deixar que passe.

Não interrompas o curso. Cada momento traz o seu pico de intensidade e tensão. E é a eletricidade que põe a energia em movimento.

É a interpretação, o querer arrancar, entender, proteger que altera o ritmo. Uma árvore não se desvia do vento, baila com ele.

Há momentos que sentimos demais e não conseguimos digerir, ultrapassam-nos. Há que olhar para a memória, soltá-la. Abraçá-la.

Tu mereces o melhor. Poder ser e expressar na tua autenticidade. Sempre serás a acolhido, se te receberes com tudo.

Podes ser, podemos ser.

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