Pontes

 




Ela sabia que tinha de ir. Avançar para a vida. Que estar na zona de conforto a fazia definhar.  E ela tinha energia. Queria ir. Tanto por conhecer, abrir, aprender, amar.

Mas tinha medo. Ainda sentia medo antes de ir. De se perder, de não encontrar o seu lugar.

E de braço dado consigo mesma ia-se permitindo caminhar, com os medos, as inseguranças, os silêncios, os ruídos, o movimento, a quietude. Pedia ajuda, apoio, ia manifestando as suas dificuldades e fragilidades. Cada vez se tornava menos importante ser importante.

E a magia ia acontecendo. As pontes sempre surgiam no meio dos precipícios para que ela os pudesse atravessar.

E se a oferenda é ir para apoiar, a questão é quem apoia quem? Quando o movimento é tão síncrono e recíproco :)

E ia por aí confiando no GPS da intuição e nas placas do caminho. Tantas foram as montanhas, as pontes, os riachos e rios do caminho. Pontes largas e estreitas, longas. Castelos. Montanhas de cortar a respiração. Paisagens lindíssimas pelo caminho nunca antes percorrido.

E tudo, porque se deu a oportunidade de confiar, de ir e avançar. Atravessar as pontes. As pontes sempre ligam e desfazem barreiras. Aproximam caminhos, pessoas.

É preciso querer fazer-se ao caminho. Encarar o incómodo. Ser contrariada. Deixar cair as formas conhecidas, a razão, o controlo, as projeções e as expetativas.

E depois que tudo caia poder esvaziar-me mais um pouco. Sentir cada mistério como um presente do presente. 

E construir pontes onde parece não haver mais caminho... também isso é continuar querer caminhar. É que sou construtora de sonhos, de vida, de amor.

E para me atravessar às vezes preciso recordar-me que também sou ponte. Redescobrir novos vínculos, linguagem e formas para chegar até mim, até ti, até nós.

E num só dia perdi a conta de tantas pontes atravessadas no caminho. 600 km no total dizia o conta quilómetros e 6 dias depois regressei a casa, com uma nova pessoa por conhecer.

É que depois de mim, nada e tudo.

E na grande metáfora e alegoria que é a vida continuo a ser a estrela e o pó. Um ponto, uma viragem, uma vírgula, um acaso. Uma viagem, um veículo, uma ponte entre mim e ti.

E avanço. Porque o caminho é sempre para a frente.

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