A ventura




Saudade de me escrever, desenhar e pintar. E o tempo que sempre se escapa entre os dedos dizendo que ainda não é tempo. Que ainda não se deu tempo para parar e se doar a si mesmo. Há sempre tanto por fazer. E quando se ocupa demais da conta com o que não era da sua conta, as partes de si que se revoltavam.

É mal, é bem? 

O barómetro da emoção sempre denuncia o que se passa dentro, até que o obscuro se torne luz. Leve o tempo que levar. E há momentos em que há dois caminhos. A polaridade e dualidade que se manifesta.

E a ilusão de que decido é apenas a desculpa para continuar a adiar a expressão da alma e a integração do espírito in corpo. Até que deixe de haver caminhos e comece a Aventura.

E o que é a Aventura do que estar dentro de si presente perante a Vida. E o que é a Vida senão o mistério vivente que se vai manifestando e avançando.

Há movimento, aprendizagem, caminho percorrido. Marcas que ficam, que se honram e dignificam para que o próximo passo possa ser mais cheio das experiências, do recebido, agradecido e reconciliado.

Nada a ser evitado e tudo por amar. E se aqui ou acolá tenho a consciência que errei, que fui rude, que agi por desamor, raiva, mágoa, hoje essa consciência diz-me que posso amar melhor, fazer melhor, porque aprendi, me tomei melhor, hoje já sei tomar conta.

Já me sei tomar onde ontem não sabia. E os incómodos acolhidos, amor inspirado e agradecido. Que os mensageiros do caminho são puro amor que se sacrificam para que possa eu abrir os olhos. E tantas vezes vêm de forma tão violenta e dura para que se rompa em mim o cristalizado e escondido.

E largar as narrativas, as peles velhas que já não servem e seguir criando, outras, novas, para novos lugares. E na travessia vou rendendo-me ao mistério, ao sentir e criando uma nova ordem, novas ordens.

Assim é o baile de lágrimas, de sorrisos, de criação de novos projetos e vidas por criar. Aí vou... sonhadora e bailarina de pó de estrelas e pés de terra mãe.

 E o que é a ventura que aventura e se aventura a explorar, a descobrir, a criar o que ainda não feito. É que tudo o que sai de dentro é essência, único e irrepetível. É que nem eu me consigo repetir quando é no propósito que os meus pés caminham. E no constante upgrade e update, tudo o que existe é transformação, formas em constante ação.

Possa eu seguir os meus passos. No corpo, na emoção que sente, no pensar que pensa e a na ação que se move, e de ritmo e som coordenado, possa dançar a melodia do coração.

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