Raiz

 

A busca sempre procura e evoca a cura e encontra os caminhos do caminho. É o desenlear dos nós, junta-os, colocando-lhes ordem e lugar.

 É sempre o incómodo que faz mover, sair do lugar para que depois se possa regressar com olhar renovado. Ir à raiz é ir ao fundo e profundo do que veio antes de nós, à origem do tempo sem tempo. E na fonte reconhecer a vida que jorra e da tocha acesa que seguiu passando de corpo em corpo até que a chama acesa que sou chegasse.

E na raiz encontra-se as feridas, o não visto e tanto por ser reconhecido e incluído ainda que oculto, invisível e inacessível. Sentir profundamente na pele o sangue que corre nas veias, as raízes que me fazem caminhar, aprender, crescer, reconciliar e prosseguir criando, evoluindo. A vida ramifica-se através de mim, portadora da chama que segue inspirando e contagiando a força de vida. Há que continuar semeando, espalhando vida. os recursos, os talentos seguem criando poesia.

Porque há raiz. E curando e nutrindo as raízes é dar-lhes nutrientes, dos bons, do amor que sana e da alegria que anima. 

E cada ramo que se expande é único e irrepetível. Na raiz me sustento para seguir na autenticidade de criar, crescer, ser e florescer.

Presente.

Aí estou presente, se me sinto sustentada. Nem para trás, nem para a frente. Sigo escutando o vento, sentindo a batida da terra que pulsa nos pés que pisam o chão. Sou árvore que dança e abre os braços ao sol para que cresçam e vão por aí inspirando, largando sementes e abraços de calor, ternura e amor. Simplesmente existindo, contemplando o acto de existir e habitar os diferentes corpos e véus.

E respiro o sopro da terra, o sopro do céu. E encontro, sempre encontro a sabedoria da raiz que sussurra. E deixo que ela venha. Ela sabe o caminho, apenas precisa abrir espaço e respiração para que ela circule e possa brindar e abençoar a nova criação que emerge a cada instante.

A raiz transporta os sacrifícios, o sangue derramado dos que vieram antes, transporta a morte e a vida, os recursos, os segredos, os talentos, os milagres, a história da história, a conexão direta com a natureza gravada nas pedras, no vento, nos céus, na terra, nas árvores, nas plantas, nos animais.

Há vozes que narram os contos que ninguém conta, que há muito parece ter-se perdido no tempo, mas que a alma vai reconhecendo à medida que se reconhece na raiz. Ela sempre relembra e vai contando.

Queiras tu ter o coração aberto para escutar e receber o rio, as margens, o canto das pedras e dança dos pássaros e as canções das folhas. 

A raiz sempre encontra formas de te buscar.  Dando-te a ilusão que és tu que buscas... E os encontros vão sucedendo com ou sem hora marcada, para que te dês conta, que contas e te ocupes de te ocupar, do lugar que sempre foi teu e de onde nunca saíste.

Raiz.

De olhos abertos talvez te distraias, de olhos fechados não há como fugir do que É. 

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