Detalhes

Tantas vezes se punha a jeito. Consigo mesma.

E perguntavam-lhe?!

Como te gestionas e auto-regulas?

A vida às vezes apresenta circunstâncias em que não conseguimos sozinhos tirar-nos da espiral e do fundo. E sim é preciso coragem, valentia para pedir ajuda e agarrar uma mão que nos possa apoiar.

Costumava dizer que tinha os melhores amigos, as melhores pessoas no seu caminho que estavam lá e que quando precisava pois pedia-lhe socorro, colo, ouvidos e também sacos de boxe para poder escoar o que lhe ia dentro. Tinha uma amiga inclusive que se disponibilizava para ir dar pantufadas na malta por ela.

E às vezes o maior apoio é só ter aquela presença que acolha o que se mostra em silêncio, sem julgamento, outras vezes o abraço, o grito de guerra, o conselho outras é abrir com a palavra dura que nos retira do drama, outras o riso que nos devolve à ligeireza.


E tudo é necessário na dança que se quer dançada de altos e baixos. É que a linearidade é a morte.  E vais aprendendo a ver-te. A fazer o necessário. E nem sempre isso é o mais confortável.

Quando se sentia estagnar e se aproximava uma espiral obsessiva /compulsiva de terror e medo ela atirava-se para fora de pé. É hora de crescer. De desafiar, de sair do cômodo.

Outras observava-se que já estava há muito tempo no mesmo lugar, que precisava de movimento. A decisão de ir, de se remover não é nada confortável, mas a disciplina de se cuidar exigia que fizesse por si. E nem sempre é agradável, porque há resistências que se carregam. E porque é preciso fazer o balanço e dosagem entre o conforto e desconforto.

É que o equilíbrio é a gestão das doses certas e ir ajustando os ritmos. 

Ela conhecia-se melhor quando se lançava fora de pé. Acedia a habilidades escondidas. Podia desmistificar medos e fantasias irreais. E simplificar. Que era mais fácil e simples. E que presente pode-se acompanhar. E aí desfruta-se.

A mente é a fazedora de filmes, a ação a construtora de realidades, a conexão com o ser, o estar e sentir.

E ia reconhecendo, validando-se. A ternura que levava dentro, o bem querer, o toque, o abraço, os gestos, a alegria e tudo o que atraia para o seu campo. E reconhecia a beleza, o amor, a suavidade.

Os detalhes. E como os detalhes se faziam importantes. O estar em cada intervalo, em cada pausa entre palavras, entre passos, entre respiração. O estar nesse espaço quente cheio de nada.

O simplesmente ficar no olhar sem querer preencher o espaço com palavras. Acompanhar as dinâmicas, reparar na dança, na música que toca. Nas sensações que gera internamente.

Como se recebe o corpo o não dito por aquela pessoa, que pensamentos surgem, que emoções provoca e como se manifesta a energia que sai no movimento corporal instintivo?

E que ideias tinha ela sobre ela que caíam por terra? E como recebia ela a queda da fraude que tinha montado acerca de si?

E a quanta liberdade acedia sobre si mesma quando se deixava cair, e podia assumir tudo acerca de si, sem juízo e prejuízo? Há espaço para que tudo possa suceder.

E como os detalhes são tudo. Denunciam os espaços encobertos. Que se querem cheios de entendimento e justificações.


E os detalhes inteiram sem que necessitem de ser definidos.



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