Provoca-te!

O tempo ganha velocidade quando se aproxima a data de ir. 

Sempre lhe passava isso entre o misto de querer avançar para o passo seguinte ou ficar no quentinho do confortável.

E sabia que ir começava no momento em que tomava a decisão de partir. De sair do lugar onde se encontrava. As maiores viagens são as que começam dentro, as que te abalam, te atiram para fora de pé,  sem que ainda tenhas saído de casa.

Como se preparava? Quais os rituais, as rotinas, as repetições que efetuava? A mala por fazer que se deixa para o último momento, o mapa mental do que é preciso levar, do que ter em conta. Deixar arrumado e tratado o que fica. Organizar a ausência, organizar a presença que vai.

Gerir os movimentos que ocorrem dentro. Os filmes, os medos, as possibilidades. Abrir espaço interno, esvaziar conceitos e pré-conceitos.

Renovar a fé, a confiança que se quer vivida com tudo, na primeira pessoa em cada passo. Fazer-se presente.

Há chamadas de atenção que só tomam lugar quando mudamos de lugar, quando entramos em território novo, seja ele país, cidade, trabalho, curso, relações.  

Precisamos de nos provocar. É voltar a evocar-te e trazer-te para que aí te possas explorar e descobrir sob novas perspetivas e perceções.

É que dares como um dado conhecido "eu conheço-te" é altamente limitador e condicionante. E seres descoberta e exploração de ti mesm@ é manter a chama viva da provocação, da sedução e enamoramento contigo mesm@.

E essa chama precisa de ser alimentada, cuidada, desafiada para que se eleve cada vez mais. Te provoque incêndios dentro, te aqueça e te faça querer aprofundar mais.

Corres o risco de cair, mas também o de voar. De te desassossegar, de te sentir mundo e casa dentro. De te amparares e contigo rires e chorares, de te abraçar e acompanhar.

E o que a fazia ir?

Porque buscava estremecer no seu desconforto? Para se revelar. Tanto de si por conhecer e remembrar. Aquela que vai nunca é a mesma que regressa. E os locais escolhem-na para que os vá conhecer, as circunstâncias, os convites, as coincidências sempre a chamam... e ela curiosa vai espreitar.

Há mundo por reconhecer como casa, como parte igual, como família para reunir e amar. Acolher o diferente, o diverso, incluir. E incluir é levar para dentro, deixar que atravesse na pele. Como é, com toda a ambiguidade, polaridade.

Sentir-se parte, sentir o todo. Permitir sentir o carrossel, a adrenalina, cuidar de se observar, de respeitar e conhecer mais acerca do que leva dentro. E trazer para dentro mais mundo, mais ideias, mais formas para continuar a criar formas. Encontrar material para fazer poesia, encontrar humanidade e beleza no olhar de outro ser humano.


E nessa pro-vocação encontrar propósito em cada esquina, em cada encontro, evocar-se, e ser o melhor de si.

Em contagem decrescente... aí vamos. siga o baile, sigam as viagens.

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