Conclusão




Dá-me a palavra. Tenho-a debaixo da língua. Completo?!  Não concluído.

Conclusão?!

Ir-se apanhando no próprio sistema de crenças, na construção das ideias, pensamentos e conclusões. A rapidez com que se conclui. A necessidade de acalmar o que se sente quando se põe uma ordem, uma caixa, uma definição.

A desarrumação mental incomoda, o não saber, o não entender. E o que fazer com o desconforto das emoções que querem ser contidas num espaço e tempo. A necessidade da estrutura mental entender-se para que a psique possa ser contida.

A aflição, o impulso por querer voltar à calma.

O que achas acerca disto? Qual a tua opinião? Como vês e consideras? Como considero. 

Há tantas coisas que precisam ficar a arrefecer, a aquecer, a amolecer, a secar, a enrijecer para que atinjam o seu culminar.

Gosto de abrir chavetas. De observar em diferentes, actos, campos, áreas sistemas as similitudes dos temas que tocam, as diferentes perspetivas e ângulos.

E apanhar-me na necessidade de querer concluir, arrumar, sistematizar. O controlo subtil que revelam os limites, as atrofias de um sistema demente, crenças herdadas, emoções não processadas e assim as feridas vêm à luz para serem vistas e tomadas.

Quantas coisas moram em nós que não fazemos a mínima ideia. E o que também nos carateriza não nos define nem conclui.

Então como olhar para fora e concluir os outros pelos actos praticados? Também eles denunciam tanta coisa e como podem actos destruir a integridade e dignidade de alguém que vemos com profundo amor e compaixão?

E também os actos dos outros podem esbarrar naquilo que são os meus limites e sentir-me magoada, desrespeitada, ferida e denunciar as permissões que dei, pela falta de amor por mim. O outro está também na sua trip, na sua viagem de ardor e nada é pessoal quando seres alheados não se dão conta do outro ser, não se demoram o tempo para sentir, perguntar, dosear, expressar, ligar-se.

E o que fazemos? Espetamos o dedo, o outro detém a culpa da dor que sinto, por a ter provocado, por ter sido a má pessoa, desrespeitadora e tudo e tudo. Já está atribuída a sentença e todo o rol de críticas. 

E onde está o amor? Para onde foi o amor que se esvaiu e se tornou noutra coisa tão dura, violenta e pesarosa?

Sim a vida, dá-nos golpes duros, muitos. Por e para o amor. Para que despertemos da cegueira. Que papeis assumimos fora de lugar pelo desespero que os outros te vejam, reconheçam, amem, valorizem?

Qual o preço da tua liberdade? Qual o preço do teu medo? De ser rejeitado, posto de parte, julgado, destruído... a nossa imaginação é muito fértil, e para não causar ondas, evitar que suceda a tormenta que construímos no nosso imaginário, somos escravos dentro da cabeça e do corpo.

Gosto de me apanhar. E de não me concluir. E perceber que a inocência às vezes tem contornos tão perversas pelas verdades que fui colhendo no inconsciente pessoal e coletivo.

E quando me apanho a concluir respiro e solto. Não conheço os ângulos todos da minha história. Onde está a origem?

Que saiba perder para ganhar. Que caiam as armaduras do julgamento e se abram as portas da compreensão e compaixão.

Resta-me a vontade e a intenção de abrir para que as cassetes e os padrões possam ser questionados. E gerar a desfragmentação de um disco rígido que levo nas células.

Ainda que completa, não me dou como concluída. E sempre que acho cheguei a uma resposta a vida muda-me as perguntas, e assim vou abrindo e rendendo-me. Gera confusão e desarrumação constante, sim. Mas tão bom seguir abrindo-me a novas perguntas. E acolher com melhor recetividade o que vem, por mais contraditório, controverso e paradoxo.

E isso humilda-me. Quando há compreensões a tendência é para concluir, porque se entendeu algo, e veio um insight e reformulou-se um padrão, instalou-se uma nova estrutura, reuniu-se algo mais. E vem mais amor, leveza e inteireza. E isso sente-se na pele e sabe tão bem. E ainda assim, reconhecer a grandeza que é a vida e o pequeno que somos. Que tudo continua em aberto, por concluir.

E ainda que saibamos que um dia este corpo também se vai, que a morte faz parte do ciclo, também não podemos dizer que essa é a conclusão.

E também isso é bonito, e mágico.



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