O mundo como é



No outro dia perguntavam-lhe "Queres mudar o mundo para melhor?" 

Deteve-se e disse que não. Também para surpresa pela resposta dada, quis entender.

Ela, sonhadora, ambiciosa, sempre a criar um mundo cheio de cores e magia, como não queria mudar o mundo?

E algo acordou lá dentro.

Se quisesse mudar estaria a rejeitar o que é, o que se apresenta. E ainda tinha tanto por aceitar e acolher. Como mudar o que ainda precisa ser visto e a beleza escondida que os olhos dela ainda não conseguiam captar.

E o que é isso de melhor? Se não a miopia e as lentes limitadas dos achismos. Já não queria salvar o mundo. Apenas salvar-se de si mesma, Da presunção, da cegueira e arrogância.

E quando começou a contactar com os vários véus da sua resposta inesperada, ampliou um pouco mais as lentes.

Ela não queria mudar o mundo, mas a sua existência contribui para que a mudança sempre se dê, em si, na envolvente que a rodeia. Não porque quer, mas porque é a natureza da criação que sempre se cria. E ela é parte inclusa.

E também a ela mesma não quer mudar. Quer ver-se cada vez melhor na imperfeita perfeição que é. E amar cada pedaço seu. Tornar confortável o desconfortável. Dar de beber à sua própria sede e de comer à fome.

E se é essa a matéria-prima que o mundo dá a todo o momento para que se faça o amor como mudar esta magia perfeita de funcionar?

Há ardores, guerras, fomes, injustiças e altos e baixos... sim, sem dúvida. Para que possa sempre regressar. E também a dicotomia, a dualidade, a polaridade é o amor em busca de amor da melhor forma que sabe.

A busca pelo encontro, pela saciedade, pela completude, pela reunião de voltar a sentir-se inteiro. E as formas sempre brincam às formas. E quando levado à séria ainda mais desatinad@s e desautinados andamos, identificados com as emoções e os ardores, com o certo e o errado, carregando pesos que se querem libertos. E como não é fácil olhar para dentro, carrega-se o mundo e a responsabilidade de andar por aí exibindo o "bom samaritano", para aliviar um pouco a dor que se sente dentro.

E sim ela queria colorir o mundo, não porque ele precisasse, mas para que ele se recordar  da Luz que é. E porque o que é a inspira a construir e a fazer mais. Encontrava melodia, som, em cada rosto, e isso inspirava-a no baile, na dança, na música.

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