Gentileza



E foi assim de repente que entraste. Deste-me a mão. Fizeste-me estremecer. E em mim permito que entres também. Me desassossegues. E me faças arriscar ir mais além do que acho ser-me capaz. E vou revelando-me e descobrindo novas sementes que levo dentro. E também a gentileza, o amor e a bondade vêem em espelhos bons que nos atravessam. Não importa se demoram, se é uma breve passagem. Importa que me encontrem recetiva para ser atravessada.

E nas marés as ondas vão passando trazendo o movimento do entusiasmo e da calmaria. Despertando ardores e inspiração. Há brilhos e sombras escondidas que sempre encontram espaço para se mostrar. E ela curiosa ia observando as narrativas da mente e a ventania que lhe atravessava. Os obstáculos, as estafetas, e toda a criatividade de uma mente que à força se queria securizar e controlar. Como acolher todos os monstros e acalmá-los. Como dizer sim a cada experiência, a cada vírgula, sentindo cada compasso, pausa e arranque.

E na dança sentia-se bailarina rodopiando no baile de se ir descobrindo e revelando pouco a pouco. Ser tela branca à descoberta de si. Aventureira do sentir que se quer ir sentindo, sem definir. E cada legenda respirar. Uma contração e uma exalação. Uma contração outra exalação. Como uma flor que abre no seu esplendor quando o sol brilha e se retrai quando o sol se põe.

Frágil e imponente. Na força da voz espontânea que expressa e contacta com o profundo e no corpo que vai denunciando os ardores que nem às paredes confessa.

Há sempre uma parte que quer fugir e se preservar. E há a outra que lhe aperta a mão firme e diz estou contigo. Gentil. A gentileza de prosseguir de mão dada. Tudo a incluir e até a parte mais sombria de si é bem vinda. E está lá para ser amada. Tudo chama a sua atenção. Tudo pede amor e resta-lhe aprender a amar melhor. A servir-se melhor.

Só assim pode dar o melhor de si. Sabendo que é plena, gentil. A gentileza pratica-se na relação dentro. E se sim, contigo e contigo vou ser o que levo dentro. A ternura de acolher, de limpar a dor, as feridas, os medos, os traumas. Nada exagera, nada a exigir, nada pede para ser perfeito. E cada experiência é toque de amor que vem para crescer.

E num repente permito que a vida me toque e me traga a experiência perfeita para crescer em amor dentro e fora. E possa doar o bem mais precioso que levo dentro.

Há sempre tudo por descomplicar, perdoar, renunciar e denunciar. Que a vida me encontre viva para na gentileza continuar a dizer sim, e com ousadia e audácia deixar que seja sempre o coração a guiar os passos.

Que a gentileza seja a canção, a dança. A ternura os abraços e o toque que adoçica as palavras.

E prevaleça a Consciência e o Amor de Corações que sintonizam. Há sempre canções e melodias a serem cantadas. 

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