O que fica se corrermos mais

E quando observas que há sempre mais qualquer coisa por fazer. Que a vontade por ação está muito presente reparas que é difícil abrandar. Que a quietude  te leva a fazer listas. Como um rio que está sempre a brotar de um fluxo que sempre se renova de energia e mais energia. E agora era-lhe pedido que observasse esse movimento. Do que fala ele? Que corrida é essa?

Onde é para chegar? Que vazios esconde a corrida? 

Dentro há um quentinho bom. Calmo, sereno. 

A aflição do querer, do chamar a atenção, de existir mascaravam o território inseguro de terra movediça por onde caminhava. E as raízes pediam terra firme dentro. Que a circulação, o espaço, entre cada respiração se pudesse dar, sem que o ar tivesse de ser preenchido por formas, fossem elas pensamentos, palavras ou matéria. E nada se podia exigir, apenas permitir que tudo pudesse suceder na imperfeita ordem do ser. E encontrar aí a magia da criação que sempre se cria.

Reduzir a expetativa, a espera, o querer. E ainda assim poder desejar, soltar e que os encontros necessários se dêem. Nada é para agarrar ou conter. E se por um segundo o amor te tocar deixa que te envolva, te despenteie e dispa. E se passar, deixa que passe. E se tiver de doer que doa, também essa é uma manifestação de amor por ti.

E à medida que se tomava conta e em conta caminhava mais devagar e permitia-se estar sem movimento, escutando o burburinho da máquina, das sensações que iam dentro. Dos poemas e canções que o corpo lhe entregava. 

E nada permanece. E nada fica mesmo que corras. Por isso relaxa-te, abre-te à aventura de receber cada mensageiro do caminho, cada semente de amor que te vai tocando.

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