Tarefa

 

Um novo amanhecer. Já algum tempo que as palavras aqui não vinham. Tem estado mais intimista, a escrever no privado.  Mas hoje decidira vir aqui. Já várias vezes se abria esta tela, com vontade de preencher o branco, mas sempre se continha.

Uma parte recolhida zela pela contenção. E outra quer deixar o rasto neste espaço que a acompanha desde 2009 e que tem os recortes das várias fases, estágios, processos de cada instante no tempo.

E este é um ano especial. Com tanto ainda por digerir, talvez por isso as palavras não saiam. E sem medição vem a tensão na atenção. E a atenção que se dá conta de cada ritmo, gesto, resistência, fôlego de alívio, profundo. E a expressão facial que se vai abrindo à medida que as palavras vão ganhando forma, espontaneidade e fluxo contínuo.

Afinal escrever fazia-a tão feliz. Era uma libertação de um espaço dentro muito especial. Em que a liberdade lhe saía pelos dedos, sem correção nem com licença. E ao mesmo tempo que permitia, acompanhava-se, como numa música, que vai tocando e o corpo dançando à medida do convite de cada melodia. Assim eram as palavras vivas dançantes que lhe escorriam à medida que começava a tautear no teclado. Tantas vezes começava com uma palavras, outras com a intenção de escrever e aguardava que tudo começasse a ganhar vida. 

E a tensão destes tempos davam-lhe mais atenção ao movimento do corpo, a cada palpitação. A responder mais ao momento presente. A dar-se conta do movimento fora e dentro.

E tantos medos a tinham vindo visitar nestes últimos tempos. Desde os mais simples, como, "o que vou escrever aqui", aos mais complexos, de qual a melhor decisão a tomar, e como confiar sem controlar todo o panorama. E se me perder? E se não conseguir? E se falhar? O que de pior pode acontecer?

E o condicional é condição por si só, imposta que a mente adora para se entreter a criar cenários. E de onde vem o medo? O instinto natural de sobrevivência, proteção e também criação da mente demente que se passeia entre memórias, imagens mentais de perigo, suscitando sintomas físicos, tornando real.

E de repente criam-se tensões, condições que necessitam espaço para respirar, para se soltarem e dissolverem. E só com atenção se apanha, se dá conta do que constantemente se está a criar. E depois? É soltar, resolver, dissolver para  voltar ao estado natural do ser. Harmonia e serenidade de estar na cAlma. Parece simples, mas quando se atravessam tempestades em mar alto, é preciso segurar bem os pés na terra e coração ao alto para que a conexão se faça. E a recordação do que é, Amor, se apresente.

E hoje após o dia do Valentim ela vem aqui celebrar o Amor, não o romântico, dos contos de fadas, mas o Próprio. E essa é uma jornada de renovação diária dos votos. De aceitar cada vírgula, de honrar cada nó e também a coragem para soltá-lo e desfazê-lo. Para perdoar cada maltrato e abandono, para reforçar a amizade, a gentileza e o carinho de dar a mão nos momentos duros, de entregar as palavras doces e acompanhar em cada nova estrada, atalho com o bem querer de bons pensamentos, emoções, palavras e ações. E voltar a escolher-se uma e outra vez, ser a prioridade e saber que egoísmo é quando diz sim ao outro em vez de dizer a si mesma,  Parece simples, mas a jornada do amor é um caminho diário, presente e de atenção. É que com tantas distrações, basta um momento para se voltar a esquecer. E se acontecer, volta a recomeçar, afinal essa é a sua grande Tarefa. 

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